Cinema

Homem-Aranha: De volta ao caminho certo (e divertido)

servido por: Caio Sandin
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2017 vem sendo um bom ano para os longas de heróis. Logan e Mulher-Maravilha conseguiram levar este tipo de filme a outros patamares, mostrando, para um público mais cético (e mais velho), que as histórias de superpoderosos podem ser maduras e densas. Guardiões da Galáxia Vol. 2 conseguiu manter o bom ritmo do primeiro, a abrangência de público – graças a um fofo Baby Groot – e, para completar, ampliou o rol de personagens e possibilidades.

Com a chegada de julho, e do verão americano, os grandes títulos “blockbuster” começam a invadir às salas de cinema. Nesta semana, foi a vez do aguardado Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming). Terceira adaptação do personagem na telona, pela primeira vez sob a tutela da Marvel Studios, o filme – estrelado por Tom Holland – se diferencia em gênero, número e grau dos predecessores. Sem prelúdio com a morte do Tio Bem… nem “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. O longa foca em exibir um ainda adolescente Peter Parker na vida escolar. Um grande acerto, pois além de demonstrar o quão jovem e, por vezes, imaturo o aspirante a herói, de fato, é. Os amigos, paixões, dificuldades e a genialidade do garoto são muito bem construídos em um núcleo diverso e carismático, que possibilita uma fácil empatia, fazendo com que o desenrolar dos fatos subsequentes tenha o peso emocional que o diretor Jon Watts pretendia.

Um ponto fundamental, e muito criticado na maioria dos filmes de heróis, é justamente o contraponto dos protagonistas… os vilões. Com um dos melhores plantéis disponíveis neste segmento, o Teioso encontra, no Abutre (Michael Keaton), um dos melhores opositores. Desde a primeira cena, a trama se empenha em construir o homem por trás do traje tecnológico voador, dando veracidade aos objetivos e motivações do personagem. A ótima atuação de Keaton realça o poder de intimidação e imposição do antagonista, além de também dar a dualidade necessária nos momentos precisos do longa.

A “reimaginação” do Abutre só se torna possível graças à interligação do Universo-Aranha, cujos direitos pertencem à Sony, ao Universo Cinematográfico da Marvel Studios, já que toda a trama gira em torno do “lixo galático” deixado pelas batalhas de Os Vingadores e como ele é aproveitado. Para deixar ainda mais claro, Homem de Ferro aparece como um grande tutor para Peter, mas é a ausência dele que o incentiva, mesmo que sem querer, a tentar provar o próprio valor e demonstrar ser digno de integrar o grupo do qual é fã desde criança, já que, neste universo, Parker tinha apenas 7 anos quando a grande batalha de Nova Iorque aconteceu, no longa original da equipe. Em vez do que se imaginava, pelo material de divulgação do filme, Tony Stark se exibe bem pouco no decorrer das duas horas e treze minutos de projeção. Ainda bem. O protagonismo é todo do jovem britânico, que demonstra ter sido a escolha perfeita para o Cabeça de Teia. O melhor Peter Parker já visto nos cinemas. Como Homem-Aranha, no entanto, mais por conta da direção não muito inspirada e da falta de ousadia nas cenas geradas no computador, este novo capítulo acaba perdendo para o predecessor imediato, já que a maneira como o herói bailava pela cidade, em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, era algo impressionante.

Sendo a visão mais audaciosa do personagem no cinema, Homem-Aranha: De Volta ao Lar demonstra toda a capacidade que o herói tem, quando em boas mãos. A adaptação de um adolescente Peter Parker, ainda na escola, com todo o potencial para se desenvolver no grande protagonista que se espera, é um enorme acerto por parte dos estúdios envolvidos, já que, além de mostrar algo fresco à audiência, cria a possibilidade de muitas continuações, dando o tempo necessário para o Spidey evoluir. Sem precipitações ou prelúdios desnecessários, o filme prima pela construção de relações, deixando um pouco de lado as batalhas grandiloquentes, sendo estas, quando acontecem, um dos pontos mais fracos da trama. O humor é utilizado com mais frequência do que o habitual, mas – por conta da característica do próprio Aranha e do ator que o interpreta – este não chega a se tornar chato ou cruzar a linha tênue para o cansativo ou bobo. As ligações com o Universo Cinematográfico Marvel estão presentes, mas não transformam o longa num trampolim para a próxima “missão vingadora” ou algo do tipo. As referências estão ali, as conexões estão feitas, mas, novamente, sem se precipitar ou tirar o protagonismo necessário do Amigão da Vizinhança. Há algum tempo não me divertia tanto. Que ano! Que continue assim…